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Mágoa, ressentimento e perdão

  • Foto do escritor: Simone Demolinari
    Simone Demolinari
  • 13 de dez. de 2018
  • 2 min de leitura

O nosso convívio é, muitas vezes, marcado por desentendimentos e conflitos. Cada vez que nos sentimos decepcionados ou ofendidos por determinadas posturas vindas de pessoas que amamos, aflora em nós sentimento de tristeza. É como se tivéssemos sido traídos.

Em muitos casos, sobretudo aqueles que não são bem conversados e esclarecidos, essa tristeza pode evoluir para algo pior, uma mágoa profunda. Um indivíduo se torna mais ou menos sensível a esse sentimento, quantas vezes mais ele os vivenciar. Ou seja, quanto mais machucado, mais frágil.

Isso porque nossa memória emocional armazena principalmente as experiências ruins numa “gaveta” mental, e, a cada novo golpe, essa gaveta é aberta e todas as mágoas anteriores são reeditadas. Devemos ter a capacidade de levantar dos nossos tombos, porém é igualmente importante tentar não cair. Isso faz toda a diferença.

Um subproduto da mágoa é o ressentimento. Nem sempre ele ocorre, mas dependendo do traço de personalidade de uma pessoa, ela não consegue sublimar o ocorrido e fica “ruminando” mentalmente, nutrindo sentimentos ruins em relação ao ocorrido.

Em meio a tudo isso, tem o perdão. Um sentimento difícil, mas aliviante para quem o pratica. Perdoar significa deixar a mágoa para trás e seguir em frente. Não há mais ressentimento, nem cobrança. É como abrir mão do pagamento de uma dívida.

Mas não é fácil. Como diz o ditado: “quem bate esquece, quem apanha, não”. A ferida sentida em quem apanhou nunca será percebida da mesma forma por quem a provocou. Nem sempre um pedido de desculpa ressarce o dano. Uma quebra de confiança, por exemplo, é uma mácula difícil de ser apagada. Mas isso não significa que não possa ser perdoada e reconstruída. No entanto, para isso, é preciso a contribuição de todos, principalmente de quem errou, pois o perdão é uma via de mão dupla: quem foi ferido deve querer perdoar e quem feriu precisa ter o “comportamento dos arrependidos”.

Há aqueles que se sentem verdadeiramente arrependidos, são bem intencionados e fazem de tudo para não repetir a postura que magoa – a maioria das vezes conseguem. Porém, há quem se arrepende superficialmente, um arrependimento estratégico que visa não perder confortos ou regalias. Estes costumam teatralizar um remorso que não sentem, às vezes choram ou até se humilham em busca do perdão, mas não mudam, pois no fundo acreditam que merecem ser desculpados de todos os erros.

É comum pessoas com dificuldade de perdoar serem mal vistas ou chamadas de “frias” por parte de quem deseja o perdão. Mas isso é um equívoco. A incapacidade de perdoar aprisiona, mas não torna ninguém ruim, afinal, se há alguém ferido é porque existe um agressor. E este sim, foi quem causou o dano. Porém, quem não perdoa, acaba guardando tudo de mal que lhe ocorreu e costuma se tornar uma pessoa mais irritadiça e revoltada. Já aqueles que perdoam, sentem-se mais felizes e livres.

Mas, convém lembrar: perdoar não é esquecer e sim conseguir transformar aquilo que nos magoou numa memória “fria”, desprovida de sentimentos.

 
 
 

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Psicoterapeuta com formação em Psicanálise Clínica e Mestrado com linha de pesquisa em Anomalia Comportamental pelo ISCTE / Fundação Getulio Vargas.
Articulista do Jornal Hoje em Dia e Revista Exclusive.
Desde 2010 está no ar diariamente na rádio 102,9 FM; e desde 2014 semanalmente na 98 FM falando sobre comportamento.

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