Tolerância zero
- Simone Demolinari
- 7 de nov. de 2019
- 2 min de leitura
Queixa que ouço frequentemente é sobre a alta irritabilidade. Parece que o momento é de pouca paciência. Quase ninguém está suportando coisas rotineiras da vida como filas, transito, lentidão do prestador de serviço, etc. A sensação que temos é a de que vamos morrer de raiva.
Essa sensação de urgência está intimamente ligada à vida moderna. Mas será certo afirmar que antigamente as coisas eram melhores? Em relação a esse aspecto, sim. Há 20 anos, nossa capacidade de esperar era amplamente exercitada. Bom exemplo disso eram as cartas que escrevíamos para nossos amigos e familiares que moravam em outras cidades.
Essa atividade implicava em escrever manualmente, muitas vezes em rascunho, passar a limpo e enviar pelos Correios e, após isso, esperar por tempo indeterminado uma resposta. A esse movimento não cabia ansiedade, apenas o exercício da espera paciente. Outro exemplo eram as fotografias: comprar o filme, tirar todas as fotos, enviar pelos Correios e se contentar com a imagem revelada. Não havia chance de repetir a pose. Não tinha a busca pela imagem perfeita.
Estava implícito na dinâmica daquela época o exercício de aceitar docemente as condições oferecidas. Isso, por si só, já proporcionava sensação de calmaria. Além disso, a dificuldade em alcançar as coisas proporcionava um sentimento de gratidão espontânea no ato da conquista. Atualmente, a realidade é o inverso; a facilidade atrelada à quantidade de opções ofertadas proporciona um sentimento de permanente insatisfação.
Do ponto de vista da tolerância, estamos piores. Então deparamos com um impasse: será preciso a escassez para vivermos melhor? Eis a questão.
Existe um ditado popular que diz: “A ignorância é uma bênção”. Esta não é a minha opinião. Concordar com essa premissa seria condenar o conhecedor à infelicidade. O que não é verdade.
Ignorância significa ausência de conhecimento e desconhecer não significa isenção. Por exemplo: um motorista que não sabe que é proibido parar em determinado local, não está isento da multa. Uma pessoa que desconhece os malefícios do cigarro não está imune ao prejuízo que isso traz.
A ignorância é como uma mão anestesiada que vai ao fogo: em princípio não se sente a dor, mas isso não significa não sofrer as consequências da queimadura. A ignorância pode aliviar temporariamente, mas não salva.
A vida moderna é um convite à intolerância e ansiedade, sim. Mas, há como sair desse circulo vicioso. Um bom começo pode ser cuidar bem da parte física pois uma mente sã funciona melhor num corpo são: exercícios diários ajudam a queimar as substâncias do estresse que o corpo produz.
Alimentação saudável também impacta diretamente na qualidade de vida. Prezar pela qualidade do sono, respeitar o limite da capacidade de trabalho, não abusar do álcool, não usar drogas, resolver os conflitos à medida que eles aparecem e não deixar acumular problemas debaixo do tapete. Do ponto de vista emocional, é preciso desenvolver um nível de consciência suficiente para administrar, com serenidade, as frustrações que a vida forçosamente nos impõe.
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